PRODUÇÃO A CAMPO

PRODUÇÃO A CAMPO
PRODUZIR UM BOM TERNEIRO VACA / ANO

Manejo reprodutivo da vaca de corte

Rev Bras Reprod Anim, Belo Horizonte, v.31, n.2, p.160-166, abr./jun. 2007. Disponível em www.cbra.org.br
1Palestra apresentada no XVII Congresso Brasileiro de Reprodução Animal, 31 de maio a 2 de junho de 2007, Curitiba/PR.
2Diagnóstico de Sistemas de Produção de Bovinocultura de Corte do Estado do Rio Grande do Sul, Relatório. Trabalho
executado pelo IEPE Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Manejo reprodutivo da vaca de corte1
Reproductive management in beef cows
José Carlos Ferrugem Moraes2, Carlos Miguel Jaume, Carlos José Hoff de Souza
Embrapa Pecuária Sul, Bagé, RS, 96401-970,
2Correspondência: ferrugem@cppsul.embrapa.br
Resumo
Com o objetivo de contribuir para o incremento da fertilidade em bovinos de corte é apresentado um
sistema de controle da reprodução de vacas pós-parto que considera a data dos partos, a condição corporal das
vacas, as práticas de desmame e suplementação hormonal. O sistema proposto viabiliza um aumento em torno de
20% da taxa de prenhez. Adicionalmente são apresentadas alternativas para a reprodução de novilhas que
incluem a aferição do peso corporal e a suplementação com gestágenos ou prostaglandinas visando a otimização
da fertilidade geral dos rebanhos.
Palavras-chave: condição corporal, data do parto, desmame, fertilidade, suplementação hormonal.
Abstract
Aiming to contribute to the improvement of beef cattle fertility is presented a system for the control of
reproduction of postpartum cows, including calving date, body condition score, weaning practices and hormonal
supplementation. The proposed system could promote an increase in around 20% of pregnancy rate.
Additionally were presented alternatives to bred heifers, including body weight, supplementation with gestagens
or prostaglandins, which could optimize the general fertility rate in beef cattle.
Keywords: body condition scores, calving date, weaning, fertility, hormonal supplementation.
Introdução
Um fato reconhecido é que a taxa de reprodução é uma característica importante para os sistemas de
produção de bovinos de corte, pois pode promover a melhoria da rentabilidade na atividade, podendo, ainda,
viabilizar o emprego de programas de seleção animal, em função da maior taxa anual de reposição. Entretanto, a
otimização da fertilidade não significa apenas promover maiores taxas de nascimento a cada ano com o uso
indiscriminado de insumos. É importante também uma visão de controle da reprodução, considerando que nem
sempre uma única tecnologia é útil para qualquer sistema de produção e que os animais submetidos ao uso das
tecnologias são diferentes e, portanto, têm necessidades diferentes (Moraes et al., 2005).
Com o objetivo de caracterizar objetivamente os sistemas de produção de bovinos de corte no Rio
Grande do Sul, ainda em 2004 foi realizado um diagnóstico pelo Programa Juntos para Competir implementado
em parceria pela FARSUL, SEBRAE/RS e SENAR/RS2 Os resultados indicaram que os pecuaristas
entrevistados têm em média áreas de 949 ha, são produtores rurais por herança, que realizam a criação de
bovinos por tradição e sua maior aspiração é a manutenção do patrimônio e continuar na atividade, apenas uma
pequena parcela destaca como objetivo a obtenção de lucro. Os rebanhos em termos de composição genética não
apresentam uniformidade racial, incluindo mais de trinta tipos de cruzamentos entre raças européias e zebuínas.
Apenas 16% dos produtores aumentaram os efetivos dos rebanhos, contrastando com 20% que reduziram seus
rebanhos, para incrementar áreas de lavoura, silvicultura, modificar o sistema de criação ou mesmo para
pagamento de dívidas. A taxa de desmame identificada nos 425 sistemas que envolviam reprodução foi de
57,1%, oscilando entre 100% e 11,1%. A monta natural ainda é o método de acasalamento mais empregado em
98,8% das vacas multíparas e 91% das novilhas. No geral 25% dos criadores empregam a inseminação artificial,
sendo que 1,2% dos produtores inseminam apenas vacas multíparas e 9,4% apenas as novilhas. Metade dos
produtores controla a prenhez de suas vacas pelo diagnóstico de gestação efetivado entre os meses de fevereiro e
junho. Isso indica que a estação reprodutiva preferencial no Rio Grande do Sul é o final da primavera e início do
verão, entretanto, 14% dos produtores ainda usa coberturas ao longo de todo ano. A idade média de descarte das
vacas é de 8,9 anos, oscilando entre 6 e 15 anos. A idade média ao primeiro acasalamento é de 28 meses,
variando de 11 a 48 meses. Já o uso de desmame precoce em vacas primíparas ou multíparas é efetuado por
apenas 16% dos produtores. Em 73,8% dos entrevistados a base dos sistemas de produção é o campo nativo sem
suplementação, que mantém em mais de 90% do tempo as vacas de cria, independentemente de sua paridade.
O resumo acima evidencia que embora existam sistemas de criação de bovinos com excepcionais
índices de produção, a situação real do Estado, em média, é deficiente quanto à eficácia reprodutiva. Os números
observados indicam que os esforços da extensão e da pesquisa para a obtenção de maior produtividade com
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recomendações tecnológicas (por exemplo, Severo et al., 1973), não têm sido totalmente efetivos e que a taxa de
fertilidade nos bovinos de corte depende de fatores não relacionados apenas à disponibilidade de tecnologias.
No contexto biológico os baixos índices reprodutivos decorrem principalmente dos efeitos combinados
da deficiente condição nutricional pela baixa oferta de forragens naturais e os maiores requerimentos decorrentes
do parto e da amamentação.
No contexto social e econômico as percepções em um estudo sobre cenários foram de que o futuro do
uso da tecnologia nos sistemas de reprodução animal deveria distinguir os produtores quanto a sua capacidade de
investimento. Para os produtores que têm condições de investir haveria necessidade de gerar tecnologias para
auxiliar na composição de uma agenda de atividades anuais, permitindo planejamento e uso de biotécnicas úteis para a
solução de seus problemas. Já para os produtores sem capacidade de investimento haveria necessidade de identificar
práticas simples e adequadas as suas características, buscando a sua continuidade na atividade e melhoria na qualidade
de vida com preservação dos recursos não renováveis para as próximas gerações (Moraes, 2003).
Em termos de resposta fisiológica das vacas de corte ante as práticas de alimentação e manejo o alvo é a
obtenção de um pico ovulatório de LH, visando o restabelecimento da atividade reprodutiva no pós-parto de
vacas adultas e a primeira ovulação fértil em novilhas.
Nesse contexto os fatores chave considerados nas recomendações de tecnologia para vacas adultas e
novilhas estão sumarizados na Tab. 1.
Tabela 1. Fatores chave considerados no manejo da fertilidade de vacas de corte
Restabelecimento da atividade reprodutiva pós-parto Primeira ovulação fértil em novilhas
Data dos partos Idade à puberdade
Condição corporal Peso corporal
Amamentação Suplementação com gestágeno
Suplementação hormonal Sincronização de cios com prostaglandinas
O objetivo principal é o de apresentar um resumo de alguns procedimentos de manejo reprodutivo com
o objetivo de melhoria da fertilidade de bovinos de corte no Rio Grande do Sul, com foco na organização de
cada sistema de criação (Moraes et al., 2006). É importante salientar que os procedimentos aqui descritos
constituem-se apenas numa das muitas possibilidades para a recomendação de tecnologias reprodutivas
considerando avanços científicos e a economicidade dos sistemas de produção.
Restabelecimento da atividade reprodutiva pós-parto
Nos sistemas extensivos de cria do Rio Grande do Sul são comuns taxas de 40% de gestações nas vacas
com cria ao pé. Com o emprego do sistema preconizado é possível a obtenção de 60-70% de prenhez nesta
categoria de animais. O que num contingente de 100 vacas representa um acréscimo em torno de 20 terneiros
desmamados, com seus reflexos positivos nos sistemas de produção. Na Fig. 1 é apresentado esquematicamente
o sistema de controle da reprodução de vacas com cria ao pé.
Os fatores chave empregados para a formulação do sistema são apresentados em seqüência.
dpp, dias pós-parto;
Desmame 4d + IA, suplementação prévia com gestágenos por 7-9 dias, separação
dos terneiros na remoção do gestágeno e início da observação de cios para
inseminação durante quatro dias.
Figura 1. Controle da reprodução da vaca com cria ao pé, um sistema flexível, incluindo classificação das vacas
CC 2
Desmame total
60-81 dpp
Monta natural 9 semanas
CC 3 - CC 4
Desmame 4 d + IA
Monta natural c/terneiro ao pé
Monta natural 9 semanas
Lote 1
Paridas da 1ª a 3ª semana
Mesmo procedimento
Lote 1
Monta natural 6 semanas
Lote 2
Paridas da 4ª a 6ª semana
CC 2
Desmame terneiros 100 Kg
Não acasaladas
CC 3 -CC 4
Desmame 4 d + IA
Monta natural c/terneiro ao pé
Monta natural 3 semanas
Lote 3
Paridas da 7ª a 9ª semana
Rebanho geral de vacas prenhas
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pela data dos partos, avaliação da condição corporal, desmame temporário, inseminação artificial e monta natural
numa temporada de 60 dias.
A duração da estação reprodutiva pode ser considerada um reflexo da tecnificação e controle no sistema
de produção. Quando os produtores não estabelecem datas fixas preferenciais para a reprodução de suas vacas, a
medida mais adequada para a eficácia reprodutiva é o intervalo entre partos, uma vez que nesses rebanhos
sempre teremos vacas gestantes e com crias desde recém-nascidos até um ano de idade. O estabelecimento de
temporadas reprodutivas é intuitivo e se sobrepõe à época do ano com maior disponibilidade de forragem numa
dada região. Os sistemas praticados no sul do Rio Grande do Sul, na sua maioria, extensivos incluem temporada
de reprodução de primavera-verão (Moraes, 1994), sendo dependentes do clima que regula a disponibilidade de
pastagens naturais. Nestas condições, as vacas com cria ao pé, de um modo geral, apresentam baixa condição
nutricional no momento desejável para o início das práticas reprodutivas. De um modo geral, quando não há
abundância de forragem no outono e no inverno, os produtores mantêm seus rebanhos mais tempo com os
touros, visando maiores taxas de vacas prenhas. Nesses casos, no momento assumido para início da temporada
subseqüente uma proporção variável de vacas ainda não pariu, está lactando terneiros com menos de dois meses
de idade ou se encontra em deficiente condição nutricional. Assim a data do parto é fundamental pelo tempo
decorrido do parto até o reinício da atividade reprodutiva no rebanho (ver, por exemplo, Grecellé et al., 2006)
associado aos efeitos combinados já mencionados de clima, fisiologia reprodutiva e manejo (Moraes et al.,
2002). A data do parto afeta significativamente a fertilidade subseqüente das fêmeas, assim, há necessidade de
ser incluído nas recomendações de manejo reprodutivo. A idéia apresentada é de que na dependência da duração
da temporada de reprodução em cada propriedade, a organização dos rebanhos por data de parto seja efetuada
com lotes quinzenais (temporadas de 45 dias), lotes de três semanas (temporadas de 60 dias) e lotes mensais
(temporadas de 90 dias). Estações reprodutivas maiores devem ser ajustadas antes do início dos procedimentos
básicos de reprodução, pois são dependentes de outros fatores inerentes ao produtor e seus objetivos com a
criação dos animais. A não consideração desse fator dificulta o uso dos demais fatores que afetam a fertilidade
pós-parto.
A estimativa da condição nutricional das vacas através da avaliação de escores de condição corporal
(CC) é uma prática descrita desde o início do século passado (Phillips, 2001). A CC é uma medida subjetiva que
serve para classificar os animais em função da cobertura muscular e de gordura. Nas últimas décadas foram
propostos critérios com cinco, seis, oito, nove e até com dez classes (para revisão ver Moraes et al., 2006),
gerando dificuldade para comparações e uso efetivo nos sistemas de produção. Entretanto, é uma informação
importante para contribuir na tomada de decisão de quando desmamar, quando e quanto suplementar as vacas de
corte, visando reduzir o período de anestro pós-parto (Short et al., 1996). Há ampla disponibilidade de
informações dos efeitos da CC sobre a fertilidade, porém há necessidade de incluir esse fator nos sistemas locais
para melhoria dos índices reprodutivos (Jaume e Moraes, 2001). Além disso, a CC é uma ferramenta útil para
predizer o desempenho reprodutivo, tanto na manifestação de cio no pós-parto, quanto na taxa de prenhez no
final da temporada reprodutiva. O critério de cinco classes utilizado para aferição da condição corporal das vacas
foi recomendado pela EMATER do Rio Grande do Sul (Cachapuz, 1997), onde as vacas magras recebem o
escore 1 e as gordas o escore 5. Esse sistema é uma adaptação do proposto por B.G. Lowman e colaboradores da
Escola de Agricultura da Escócia (Wright e Russel, 1984), que inclui seis classes (escores de 0 a 5) e serviu de
modelo para a recomendação de diversos critérios alternativos. Um exemplo do efeito da CC é que sua aferição
no início da temporada reprodutiva, em vacas com 60-75 dias pós-parto, revelou taxas de manifestação de cio de
9%, 60% e 80% e de prenhez de 27%, 50% e 78%, respectivamente para animais em escore 2, 3 e 4, após um
período de serviço de 90 dias (Jaume e Moraes, 2001).
A interrupção da amamentação como estratégia de redução dos requerimentos nutricionais das vacas de
corte resulta em melhor desempenho produtivo, sendo que de um modo geral a antecipação dos desmames de
sete para três meses, promove um incremento entre 20-30% na taxa de prenhez. Quanto maior é o tempo que as
vacas são mantidas com cria ao pé, menores são as taxas de prenhez na temporada reprodutiva subseqüente,
alguns exemplos indicam que com desmame natural a taxa de prenhez pode ser em torno de 50% (Leal e Borba,
1978), embora, com ampla variabilidade em função dos demais componentes dos sistemas é possível a obtenção
de taxas de prenhez em torno de 80% com o desmame das crias aos 60 ou 90 dias de idade (Cachapuz, 1997;
Pimentel et al., 1979; Salomoni et al., 1988; Restle et al., 2001). Alguns estudos compilados, empregando
desmame definitivo, com ou sem o emprego de tabuletas nasais em diferentes momentos, com distintos tempos
de aplicação, revelaram um efeito mediano de incremento na taxa de prenhez de 30%, indicando que nem
sempre os resultados esperados são alcançados e que dependem de outras decisões dentro dos sistemas de
produção (Rosa e Real, 1976, Leal e Borba, 1978; Côrtes et al., 1991).
As evidências da utilidade do desmame são incontestáveis, porém, o restabelecimento da atividade
cíclica, depende nas primeiras semanas, da atividade cerebral relacionada à liberação de GnRH, e,
posteriormente, da perfeita interação desses sinais hipotalâmicos com os gonadotrófos hipofisiários e a produção
de esteróides ovarianos (Williams et al., 1982; McNeilly, 1994). A utilização prática desses conhecimentos
básicos de fisiologia está conectada ao fato que a fertilidade da primeira ovulação pós-parto é baixa, associada
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também a ausência de manifestação de cio síncrono à primeira ovulação e a um alto percentual de ciclos curtos
(Inskeep, 1995). Este fato, quando o método de cobrição é a monta natural, repercute num manejo diferenciado
no uso dos touros, em termos de percentagem e momento de colocação no rebanho; quando, o método é a
inseminação artificial, pelo anestro e/ou repetição de serviços com intervalos irregulares.
A suplementação com progesterona viabiliza fertilidade normal nos primeiros cios pós-parto (para
revisão McNeilly, 1994). A metodologia de uso da progesterona / progestágenos na indução e sincronização de
cios em bovinos tem sido aprimorada desde a década de 50 e sua administração é através de implantes vaginais,
auriculares e na alimentação (Gordon, 1996). A mais recente terapia hormonal a se popularizar foi o hormônio
liberador das gonadotrofinas (GnRH) associado ou não a remoção precoce das crias (Geary et al., 2001).
Presentemente há uma enorme gama de protocolos testados incluindo progesterona e/ou seus derivados,
estradiol, prostaglandina e GnRH, que por suas funções específicas podem contribuir para abreviar o intervalo
entre partos em cada situação específica, como exemplos nacionais consultar Fernandes et al. (2001) e Bastos et
al. (2004). Os protocolos resultantes viabilizam o restabelecimento do ciclo estral na dependência dos prérequisitos
fisiológicos acima descritos e das relações de custo/benefício nos distintos sistemas de produção.
Primeira ovulação fértil em novilhas
Em sistemas extensivos de criação o primeiro acasalamento de novilhas de corte é efetivado em torno
dos dois anos de idade com o objetivo de reduzir sua fase não produtiva. Não necessariamente esta é a idade à
puberdade, que, em função do sistema de criação já pode ter sido atingida pelas novilhas em torno do primeiro
ano de vida. No entanto, sabe-se que a primeira ovulação fértil deve ocorrer entre os 5 e os 24 meses de idade, na
dependência do nível nutricional, desenvolvimento corporal, estação do ano, fatores de manejo e tratamentos
hormonais (Gordon, 1996). O aumento na freqüência de pulsos de LH é pré-requisito para a manifestação da
puberdade, que pode ser induzida em novilhas ainda com baixo peso corporal com tratamentos de curta duração
de progestágenos (Kinder et al., 1995).
Nos sistemas extensivos de criação de bovinos de corte o peso corporal assumido como ideal das
novilhas ao primeiro acasalamento é de aproximadamente 60% do peso adulto das vacas nas raças européias e
65% para zebuínas, associadas à CC entre 3 e 4 (Lobato e Azambuja, 2002). O uso de cruzamentos entre raças
européias e zebuínas visa a obtenção de maior produtividade, no entanto, apresenta como ponto de
estrangulamento a baixa precocidade sexual das novilhas cruzadas criadas extensivamente no Rio Grande do Sul,
caracterizada por baixo percentual de novilhas de dois anos manifestando ciclos estrais regulares no início da
temporada reprodutiva. Considerando essa situação foi testada a hipótese de que para novilhas derivadas de
cruzamentos comerciais entre zebuínos e taurinos o limiar de 280 kg de peso vivo no início de programas de
inseminação artificial é insuficiente para a obtenção de índices superiores a 80% de inseminações e de prenhez
ao final da temporada reprodutiva. Foram testados como indicadores da maturidade sexual de novilhas cruzadas
ao primeiro serviço, a altura à cernelha, a CC e o peso corporal. Nessa categoria de animais ainda em
crescimento apenas o peso corporal foi importante na taxa de prenhez, tendo sido constatado que o peso mínimo
das novilhas gestantes foi 306 kg.
A concentração das parições das novilhas no início das temporadas reprodutivas, visando otimização da
fertilidade do rebanho pode ser obtida com diferentes combinações de progestágenos e prostaglandinas. A
utilização de progestágenos na sincronização de cios em bovinos data dos anos 50, inicialmente sendo
administradas por um período de 11 a 14 dias à semelhança dos sistemas desenvolvidos para os ovinos.
Posteriormente, em decorrência de baixos índices de fertilidade após sincronização o período de administração
passou para 7-9 dias, com a melhoria da fertilidade (Gordon, 1996). Os principais métodos de administração
utilizados para a suplementação com gestágenos são: aparatos de plástico injetado em formas diversas com a
função de liberação lenta de progesterona, administração no alimento; implantes subcutâneos contendo
Norgestomet (17 a-acetoxi- 11b-methyl- 19-norpregna-4-en-2.20-diona); e, esponjas intra-vaginais impregnadas
com acetato de medroxi-progesterona ou progesterona.
As esponjas vaginais foram os primeiros aparatos desenvolvidos, no entanto, até hoje carecem de
desenvolvimento comercial. No sul do Brasil, Uruguai e Argentina foram desenvolvidos pessários de esponjas
impregnadas com MAP (Cavestany, 1996; Moraes e Jaume, 1997) e com progesterona natural (Doray et al.,
1997) para a sincronização de cios em bovinos, com a constatação de resultados satisfatórios em termos de
sincronização de cios e prenhez ao primeiro serviço.
O sistema que usa a administração no alimento do progestágeno MGA (acetato de melengestrol)
durante 14 dias, proporciona 85% de cios em novilhas na primeira semana após o tratamento, sendo que cerca de
80% ficam gestantes no primeiro mês. Os sistemas com o MGA podem associar GnRH e prostaglandina,
entretanto, são de reduzida utilidade em sistemas extensivos, uma vez que há necessidade de administração
diária no alimento.
Os implantes subcutâneos com gestágenos e os dispositivos intra-vaginais com progesterona são os
mais avançados tecnologicamente e com maior difusão comercial. De um modo geral constata-se a manifestação
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de cio entre 2-3 dias após a remoção dos implantes de Norgestomet ou dos dispositivos impregnados com
progesterona e fertilidade normal ao primeiro serviço.
Alguns estudos têm indicado que a associação de estrógenos à progesterona/progestágenos seria útil
para elevar a taxa de manifestação de cio e os índices de prenhez em novilhas próximas da puberdade (Dailey et
al., 1983; Fike et al., 1997), embora Xu et al. (1996) tenham evidenciado menor taxa de fertilidade com o uso de
sincronização de cios em novilhas da raça Holandesa na Nova Zelândia, na busca de maior concentração dos
partos no início da estação de parição. A despeito de alguns resultados controversos o sistema que inclui a
associação de 0,5 mg de benzoato de estradiol 24 horas após a remoção dos dispositivos vaginais está sendo
amplamente utilizado (Vogg et al., 2004).
Ainda existem algumas outras alternativas que combinam as prostaglandinas, GnRH e ainda estradiol
(Dailey et al., 1983), que no entanto, não têm sido recomendados para novilhas que ainda não apresentam estros
com intervalos regulares (Rasby e Deutscher, 2002).
Nos dias de hoje pelo menos uma dúzia de protocolos já foram delineados, incluindo os hormônios
disponíveis. De um modo geral a recomendação básica da literatura para a antecipação e concentração dos partos
de novilhas ciclando, já sexualmente maduras, seriam os sistemas com prostaglandinas, dos quais é possível
esperar pelo menos 70% de gestações em poucos dias, dependendo do sistema eleito. No caso de novilhas ainda
em anestro, porém com idade e peso corporal próximos do ideal para o início de sua atividade reprodutiva, o uso
de sistemas incluindo os gestágenos são os recomendados para a obtenção de resultados semelhantes aos obtidos
para novilhas de mais precoces sexualmente e/ou criadas em melhores condições de alimentação.
Considerações finais
O controle da reprodução em bovinos de corte é um processo complexo pelo número de fatores
intervenientes e suas possíveis interações. Assim, todo o procedimento a ser adotado deve ser coerente com
necessidades momentâneas de cada sistema de produção. Produtores que desejam empregar inseminação
artificial em vacas com cria ao pé devem: controlar as datas dos partos; classificar os animais quanto a sua
condição corporal depois de 60 dias pós-parto; suplementar com implantes vaginais contendo gestágeno durante
7-9 dias; separar os terneiros durante 96 horas, na remoção dos pessários; controlar a manifestação de cios e
inseminar normalmente. Estes procedimentos viabilizam a inseminação de cerca da metade das vacas com
condição corporal superior (CC3 – CC5), paridas nos primeiros lotes, e, a obtenção de aproximadamente 35% de
terneiros oriundos da inseminação com sêmen congelado de touros escolhidos para o programa de melhoramento
do rebanho em quatro dias de serviço de IA. Assim, a melhoria da fertilidade das vacas com cria ao pé, pode ser
obtida através de uma avaliação periódica da CC, visando fornecer maior quantidade de alimento para as vacas
magras (CC2), otimizando assim a distribuição dos recursos naturais disponíveis. O ponto chave não é o
conhecimento de que a condição corporal afeta a fertilidade, mas sim, o uso da informação com a finalidade de
melhorar o nível nutricional das vacas mais necessitadas.
Produtores que desejam inseminar novilhas de dois anos de idade ciclando, podem empregar um dos
vários protocolos à base de prostaglandinas, que viabilizam a antecipação das concepções em pelo menos 15
dias, o que contribui para que essas fêmeas venham a parir no início da temporada de parição. Produtores que
desejem inseminar novilhas mais jovens e/ou com deficiente desenvolvimento corporal, ainda sem um padrão
normal de ciclicidade reprodutiva, podem lançar mão da suplementação com gestágenos, que contribui para um
desempenho semelhante ao das novilhas sexualmente maduras.
O uso das biotécnicas para controle da reprodução das vacas de corte não substitui um bom
planejamento da nutrição e da saúde dos animais, que deve ser delineado especificamente para as necessidades
de cada unidade de produção. Programas de sucesso requerem vacas e novilhas em boa condição corporal e
livres de enfermidades; boa vontade dos produtores em aprender e utilizar os protocolos preconizados; e
facilidade de manejo dos animais na infra-estrutura disponível para detecção dos cios, separação e inseminação.
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